As Transformações Começam Conosco
Há um antigo ditado japonês:
"Se houver relacionamento, faço; se não houver relacionamento, saio".
Um Mestre Zen, no final do século passado, fez a seguinte alteração:
"Havendo relacionamento, faço; não havendo, crio relacionamento".
Essa mudança de paradigma é extremamente importante. Devemos também
lembrar que criar um relacionamento não significa, necessariamente,
obter resultados imediatos, embora muitas vezes estes ocorram.
Novos relacionamentos em padrões antigos perdem seu significado.
Precisamos criar relacionamentos a partir de novas maneiras de nos
relacionar, de ver o mundo, de ser, de inter ser. Essa nova maneira
pode, inclusive, recarregar de energia positiva antigos relacionamentos.
Para descobrirmos novas maneiras precisamos, primeiramente desenvolver a
capacidade de perceber como estão nossos relacionamentos atuais.
Observe e considere meticulosamente a si mesmo. Perceba como está se
relacionando em casa, na rua, no trabalho, no lazer. Perceba como
respira, como anda, como toca nos objetos, como usa sua voz, como são
seus gestos e como são seus pensamentos e os não pensamentos. Esse
observar não deve ser limitante, constrangedor, confinador. Apenas
observe. Como você se relaciona com o meio ambiente, biodiversidade,
reciclagem, justiça social, melhor qualidade de vida, guerras,
violência, terror, paz, harmonia, respeito, garantia dos Direitos
Humanos? Como você e o seu logos se relacionam entre si e em relação aos
projetos de sucesso, de lucro, de desenvolvimento e progresso de sua
organização?
Como está se relacionando com o mais íntimo de si mesmo, com a essência da Vida, com o Sagrado?
Será que é capaz de ver, ouvir, sentir e perceber a rede de inter
relacionamentos de que é feita a vida? Percebe e leva em consideração,
na tomada de decisões, a interdependência?
Tanto individualmente, como no coletivo, nossa participação e
compreensão como estão? Será que estamos conscientemente vivendo nossas
vidas e direcionando nossos pensamentos, ações e palavras para o sentido
de mudança que queremos e sonhamos?
Mahatma Gandhi disse: "Temos de ser a transformação que queremos no mundo".
Geralmente pensamos no mundo como alguma coisa distante e separada de
nós, mas nós somos a vida do universo em constante movimento. Podemos
até dizer que o mundo somos nós. Nossa vida forma o mundo, é o mundo,
não apenas está no mundo. Inclui todas as formas de vida e seus
derivados e nos inclui neste instante, instante após instante. Há um
monge chinês do século VII, Gensha Shibi , que dizia : "O Universo é uma
jóia arredondada. Somos a vida desse universo em constante
transformação. Nada vem de fora, nada sai para fora".
De momento a momento tudo está mudando, nós fazemos parte dessa mudança e
podemos escolher, discernir qual o caminho que queremos dar a esse
constante transformar. É por isso que digo que a transformação começa em
nós. Na verdade vai além de apenas começar. É em nós. Nossa capacidade
humana de inteligência e compreensão nos permite fazer escolhas. E o que
estamos escolhendo?
Outra frase de Mahatma Gandhi:
"Quando uma pessoa dá um passo em direção à Paz, toda a humanidade avança um passo em direção à Paz"
A minha decisão, a sua decisão pode transformar ou influenciar a direção da mudança.
Há um sutra budista que descreve o mundo como uma rede de inter
relacionamentos. Como se fosse uma imensa teia de raios luminosos e em
cada intersecção uma jóia capaz de receber essa luz e emitir raios em
todas as direções. Qualquer pequena mudança afeta o todo. Cada ser que
se transforme em um ser de paz, de harmonia, de ternura, carinho e
respeito pela vida em todas as suas formas estará sendo uma mudança viva
e influenciando tudo e todos.
Qual o primeiro passo? Conhecer a si mesmo. Conhecer nossos mecanismos.
O que nos afeta, nos incomoda? O que nos alegra? O que nos irrita? Como
transformar a raiva em compaixão? Como transformar o desafio em
competição leal, justa, empreendedora, enriquecedora? Sem nos
preocuparmos com os créditos, se formos capazes de fazer o bem, não
fazer o mal, fazer o bem aos outros estaremos transformando nossos
lares, nossas amizades, nosso ambiente de trabalho, nossas organizações,
nossas cidades, estados, países, nações, mundo... e a nós mesmos...no
florescimento da Cultura da Paz.
"Estudar o Caminho de Buda é estudar a si mesmo. Estudar a si mesmo é
esquecer-se de si mesmo. Esquecer-se de si mesmo é ser iluminado por
tudo que existe. Transcender corpo e mente seu e dos outros. Nenhum
traço de iluminação permanece e a Iluminação é colocada à disposição de
todos os seres." (Mestre Zen Eihei Dogen - 1200-1253)
É importantíssimo que iniciemos este "estudar a si mesmo", já. Cada um
de nós que perceber seu próprio mecanismo ficará em controle desse
mecanismo e não mais à mercê de seus sentimentos e emoções, desejos e
frustrações, puxado, empurrado, espremido e puxando, empurrando,
espremendo - envenenados pela ganância, raiva e ignorância.
Imagine um mundo aonde podemos brilhar uns para os outros, sem ódios,
mas com carinhoso respeito e terna compreensão. Percebendo nossas
diferenças, aceitando a diversidade da vida e juntando nossas
capacidades tanto intelectuais como físicas na construção desse
verdadeiro Céu, Paraíso, Terra Pura, Shambala de que falam as religiões,
todas elas.
Cabe a nós, a cada um de nós criar esse relacionamento de carinho com a
vida, de ternura com todos os seres, de compreensão, de sabedoria e
compaixão para percebermos o Caminho Iluminado e o Nirvana permeando
toda a existência.
Isso é dar vida à nossa própria vida.
* * *
Haverá explicação e prática da meditação sentada e caminhando,
exercícios de plena atenção, momentos de pausa e de reflexão a fim de
desenvolver a percepção de si mesmo, do outro e do meio ambiente, de
como agimos, reagimos atualmente - nosso relacionamentos - e do que
seria conveniente fazer para ocorrer mudanças (caso as considerem
necessárias) ou direcionar transformações individuais e coletivas.
Monja Coen
Meus amigos(as) desejo a todos uma ótima Tarde.
Muita Paz para todos.
Força Sempre
Claudio Pacheco