Pergunta: Diz-se que na realidade o senhor está a acorrentar o indivíduo, não a libertá-lo. Isto é verdade?
Krishnamurti: Depois de ter respondido a esta questão, você próprio poderá descobrir se estou a libertar o indivíduo ou a acorrentá-lo.
Tomemos o indivíduo tal como ele é. O que queremos
dizer com indivíduo? Uma pessoa que é controlada e dominada pelos seus
medos, os seus desapontamentos, as suas ânsias, uma pessoa que cria um
determinado conjunto de circunstâncias que o escravizam e o forçam a
ajustar-se numa estrutura social. É isto o que queremos dizer com
indivíduo. Através dos nossos medos, das nossas superstições, das nossas
vaidades e das nossas ânsias, criamos um determinado conjunto de
circunstâncias ao qual nos escravizamos. Quase perdemos a nossa
individualidade, a nossa singularidade. Quando você examina a sua ação
na vida quotidiana, verá que ela é apenas uma reação a um conjunto de
normas, a uma série de ideias.
Por favor acompanhem o que eu digo, e não digam que
eu forço o homem a libertar-se para que possa fazer o que gosta – para
que possa provocar destruição e catástrofe.
Antes de mais nada quero esclarecer que somos apenas
reações a um conjunto de normas e ideias que criamos através do nosso
sofrimento e medo, através da nossa ignorância, do nosso desejo de
posse. A esta reação chamamos ação individual, mas para mim, não é de
forma alguma ação. É uma reação constante na qual não há ação positiva.
Colocarei a questão de outra forma. Presentemente, o
homem é apenas o vazio da reação, nada mais. Ele não age a partir da
totalidade da sua natureza, da sua plenitude, da sua sabedoria; ele age
meramente a partir de uma reação. Eu afirmo que o caos, a destruição
total está a acontecer no mundo porque não agimos a partir da nossa
plenitude, mas a partir do nosso medo, a partir da falta de compreensão.
Uma vez nos tornemos conscientes do facto de que o que chamamos
individualidade é apenas uma série de reações nas quais não há
totalidade de ação; uma vez compreendamos isso, que a individualidade é
apenas uma série de reações nas quais há vazio constante, um vácuo,
então agiremos harmoniosamente. Como vamos descobrir o valor de uma
determinada norma a que nos agarramos? Não descobrirão agindo em
oposição a essa norma, mas pesando e equilibrando o que vocês realmente
pensam e sentem contra o que a norma exige. Descobrirão que a norma
exige determinadas ações, ao passo que a vossa própria ação instintiva
tende para outra direção. Então o que farão? Se fizerem o que o vosso
instinto requer, a vossa ação levará ao caos, porque os nossos instintos
foram pervertidos através de séculos do que chamamos educação –
educação essa que é inteiramente falsa. O vosso próprio instinto exige
um tipo de ação, mas a sociedade, que nós, individualmente, criamos
através dos séculos, sociedade essa da qual nos tornamos escravos, exige
outra espécie de ação. E quando vocês agem de acordo com o conjunto de
normas exigidas pela sociedade não estão a agir através da totalidade da
compreensão.
Na realidade, meditando sobre as exigências dos
vossos instintos e sobre as exigências da sociedade, vocês descobrirão
como poderão agir em sabedoria. Essa ação liberta o indivíduo; não o
acorrenta. Mas a libertação do indivíduo requer grande seriedade, grande
procura na profundidade da ação; não é o resultado da ação nascida de
um impulso momentâneo.
Portanto devem reconhecer o que são agora. Apesar do
bem instruídos que possam ser, vocês são apenas parcialmente um
verdadeiro indivíduo; a maior parte de vocês está determinada pela
reação à sociedade, que vocês criaram. Vocês são apenas uma engrenagem
na tremenda máquina a que chamam sociedade, religião, política, e
enquanto forem essa engrenagem, a vossa ação nasce da limitação; apenas
os levará à desarmonia e ao conflito. Foi a vossa ação que resultou no
nosso presente caos. Mas se tivessem agido a partir da vossa própria
plenitude teriam descoberto o verdadeiro valor da sociedade e o instinto
causador da ação; então a vossa ação seria harmoniosa, não um
compromisso.
Primeiramente, então, devem tornar-se conscientes dos
falsos valores que foram estabelecidos através dos séculos e dos quais
se tornaram escravos; devem tornar-se conscientes dos valores, para
descobrir se são falsos ou verdadeiros, e isto devem fazê-lo por si
próprios. Ninguém o pode fazer por vocês – e aqui reside a grandeza e a
glória do homem. Assim, descobrindo o correto valor dos padrões,
libertam a mente dos falsos padrões transmitidos através dos tempos. Mas
tal libertação não significa a ação impetuosa e instintiva que leva aos
caos; significa a ação nascida da total harmonia de mente e coração.
Pergunta: O senhor nunca viveu
a vida de um homem pobre; sempre teve a segurança invisível dos seus
amigos ricos. Fala da absoluta abdicação de qualquer tipo de segurança
na vida, mas milhões de pessoas vivem sem essa segurança. O senhor diz
que uma pessoa não se pode aperceber do que não experimentou;
consequentemente, o senhor não pode saber o que a pobreza e a
insegurança física realmente são.
Krishnamurti: Esta é uma pergunta que frequentemente me fazem; já a respondi muitas vezes antes, mas fá-lo-ei de novo.
Primeiramente, quando falo de segurança, quero dizer a
segurança que a mente estabelece para seu próprio conforto. O homem
deve ter segurança física, algum conforto físico, para existir.
Portanto, não confundam as duas. Cada um de vocês procura não só uma
segurança física mas também uma segurança mental, e nessa procura estão a
estabelecer autoridades. Quando percebem a falsidade da segurança que
procuram, então essa segurança deixa de ter qualquer valor; então
apercebem-se que apesar de ter que haver um mínimo de segurança física,
mesmo essa segurança não pode ter senão pouco valor. Então já não
concentram mais toda a vossa mente e o coração na aquisição constante de
segurança física.
Colocarei a questão de forma diferente, e espero que
fique clara; mas qualquer coisa que se diga pode facilmente ser mal
interpretada. Tem que se passar através da ilusão das palavras para
descobrir o pensamento que o outro deseja transmitir. Espero que tentem
fazer isso durante esta conversa.
Eu digo que a vossa persecução da virtude, que é
apenas o oposto daquilo a que chamam vício, é simplesmente uma busca de
segurança. Porque têm um conjunto de padrões na vossa mente, procuram a
virtude pela satisfação que dela conseguem; porque para vocês virtude é
apenas um meio de adquirir segurança. Não tentam adquirir virtude pelo
seu valor intrínseco, mas pelo que lhes dá em troca. As vossas ações, no
entanto, estão apenas relacionadas com a persecução da verdade; em si
próprias isentas de valor. A vossa mente está constantemente à procura
da virtude para obter, através dela, outra coisa, e assim a vossa ação é
sempre um objetivo intermédio para uma ulterior aquisição.
Talvez a maior parte dos que aqui estão estejam à
procura de uma segurança espiritual mais do que de uma segurança física.
Procuram segurança espiritual ou porque já possuem segurança física –
uma abastada conta bancária, uma posição segura, uma alta posição na
sociedade – ou porque não podem alcançar segurança física e por isso
voltam-se para a segurança espiritual como um substituto. Mas para mim
não existe essa coisa de segurança, um abrigo em que a nossa mente e
emoção possa sentir conforto. Quando se aperceberem disso, quando a
vossa mente estiver livre da ideia de conforto, então não se apegarão à
segurança como fazem agora.
Perguntam-me como posso entender a pobreza se não a
experimentei. A resposta é simples. Uma vez que não procuro segurança
nem física nem mental, não tem qualquer importância para mim se são os
meus amigos que me dão comida, ou se trabalho para a ter. É de muito
pouca importância para mim se viajo ou não viajo. Se me pedem, venho; se
não me pedem, não faz qualquer diferença para mim. Porque eu sou rico
em mim mesmo (e não digo isto com presunção), porque não procuro
segurança, tenho poucas necessidades físicas. Mas se eu procurasse o
conforto físico, eu daria ênfase às necessidades físicas, daria ênfase à
pobreza.
Olhemos para isto de uma maneira diferente. A maioria
das nossas desavenças no mundo dizem respeito à posse ou não posse;
dizem respeito à aquisição disto e à proteção daquilo. Então porque
colocamos tal ênfase na posse? Fazemo-lo porque a posse nos dá poder,
prazer, satisfação; dá-nos uma certa garantia de individualidade e
proporciona-nos margem de manobra para a nossa ação, para a nossa
ambição. Colocamos ênfase na posse devido ao que dela obtemos.
Mas se nos tornarmos ricos em nós mesmos, então a
vida fluirá através de nós harmoniosamente; então a posse ou a pobreza
já não serão de grande importância para nós. Porque colocamos ênfase na
posse, perdemos a riqueza da vida; ao passo que, se fossemos completos
em nós mesmos, descobriríamos o valor intrínseco de todas as coisas e
viveríamos em harmonia de mente e coração.
Pergunta: Foi dito que é a
manifestação de Cristo nos nossos tempos. Que tem a dizer sobre isto? Se
é verdade, porque não fala de amor e compaixão?
Krishnamurti: Meus amigos, por
que fazem tal pergunta? Porque perguntam se sou a manifestação de
Cristo? Perguntam porque querem que lhes assegure que sou ou não o
Cristo, para que possam julgar o que digo de acordo com o padrão que
têm. Há duas razões pelas quais fazem essa pergunta: pensam que sabem o
que é o Cristo, e por isso dizem, “Agirei de acordo”; ou, se eu disser
que sou o Cristo, então pensam que o que digo deve ser verdade. Não
estou a fugir à questão, mas não lhes vou dizer quem sou. Isso é de
muito pouca importância, e, além disso, como podem saber o que ou quem
sou mesmo que eu lhes diga? Tal especulação carece de importância.
Portanto não nos preocupemos sobre quem sou, mas olhemos para a razão da
vossa pergunta.
Querem saber quem eu sou porque estão indecisos sobre
vocês próprios. Não estou a dizer se sou ou não o Cristo. Não lhes
estou a dar uma resposta categórica, porque para mim a pergunta não é
importante. O que é importante é se o que eu estou a dizer é verdade, e
isto não depende do que eu sou. É algo que só poderão descobrir ao
libertarem-se de preconceitos e padrões. Não podem obter verdadeira
liberdade de preconceitos olhando para uma autoridade, trabalhando para
um fim, no entanto é isso que estão a fazer; sub-repticiamente,
perseverantemente, estão a procurar uma autoridade, e nessa busca não
estão senão a transformar-se em máquinas imitativas.
Perguntam porque não falo de amor, de compaixão. Fala
a flor do seu perfume? Ela simplesmente é. Já falei do amor; mas para
mim o importante não é discutir o que é o amor ou a compaixão, mas
libertar a mente de todas as limitações a que chamamos egotismo,
autoconsciência; então saberão sem perguntar, sem discussão.
Questionam-me agora porque pensam que depois podem agir em conformidade
com o que descobrem de mim, que terão uma autoridade para a vossa ação.
Portanto digo novamente, a verdadeira questão não é
porque não falo sobre o amor e a compaixão, mas antes, o que impede a
vida natural e harmoniosa do homem, a plenitude de ação que é amor.
Falei sobre as muitas barreiras que impedem a nossa vida natural, e
expliquei que tal vida não significa ação instintiva e caótica, mas sim
vida rica e plena. A vida rica e natural tem sido impedida através de
séculos de conformidade, através de séculos do que chamamos educação,
que não tem sido mais que um processo de produção de tantas máquinas
humanas. Mas quando compreendem a causa destes impedimentos e barreiras
que criaram para vocês mesmos através do medo na vossa procura de
segurança, então tornam-se livres deles; então há amor. Mas esta é uma
compreensão que não pode ser discutida. Não discutimos sobre a luz do
sol. Está aí; sentimos o seu calor e apercebemo-nos da sua beleza
penetrante. Somente quando o sol se esconde é que discutimos sobre a sua
luz. Da mesma forma acontece com o amor e a compaixão.
Pergunta: Nunca nos deu uma
concepção clara do mistério da morte e da vida após a morte, contudo
fala constantemente de imortalidade. Sem dúvida que acredita na vida
após a morte?
Krishnamurti: Querem saber
categoricamente se existe ou não aniquilação após a morte: essa á uma
abordagem errada ao problema. Espero que acompanhem o que digo, visto
que de outra maneira a minha resposta não será clara para vocês e
pensarão que não respondi à pergunta. Por favor interrompam-me se não
compreenderem.
Que querem dizer quando falam da morte? A vossa dor
pela morte de alguém, e o medo da vossa própria morte. A dor é
despertada pela morte de alguém. Quando o vosso amigo morre, vocês
tornam-se conscientes da solidão porque confiavam nele, porque vocês e
ele se complementaram, porque se compreenderam, apoiaram e encorajaram.
Portanto quando o vosso amigo morre, vocês têm consciência do vazio;
querem aquela pessoa de volta para preencher a parte da vossa vida que
antes preenchia.
Querem o vosso amigo novamente, mas uma vez que não o
podem ter, voltam-se para várias ideias intelectuais, para vários
conceitos emocionais, que pensam lhes darão satisfação. Vocês contam com
essas ideias para consolo, para conforto, em vez de descobrir a causa
do vosso sofrimento e de se libertarem eternamente da ideia da morte.
Voltam-se para uma série de consolações e satisfações que gradualmente
diminuem o vosso intenso sofrimento; contudo, quando a morte volta,
voltam a experimentar o mesmo sofrimento outra vez.
A morte vem e causa-lhes dor intensa. Aquele que
muito amaram morreu, e a sua ausência acentua a vossa solidão. Mas em
vez de procurarem a causa dessa solidão, tentam escapar-lhe através de
satisfações mentais e emocionais. Qual é a causa dessa solidão?
Confiança em outro, a incompletude da vossa própria vida, a tentativa
contínua de evitar a vida. Vocês não querem descobrir o valor real dos
factos; em vez disso, atribuem um valor àquilo que não é senão um
conceito intelectual. Assim, a perda de um amigo causa-lhes sofrimento
porque essa perda os torna totalmente conscientes da vossa solidão.
Depois há o medo da vossa própria morte. Quero saber se viverei depois
da minha morte, se reencarnarei, se existe uma continuação para mim de
alguma forma. Preocupam-me estas esperanças e estes medos porque não
conheci nenhum momento de riqueza durante a minha vida; não conheci um
único dia sem conflito, um único dia em que me sentisse completo, como
uma flor. Por isso tenho este desejo intenso de realização, um desejo
que envolve a ideia de tempo.
Que querem dizer quando falamos sobre o “eu”? Vocês
só tomam consciência do ”eu” quando são apanhados no conflito da
escolha, no conflito da dualidade. Neste conflito tomam consciência de
si próprios e identificam-se com um ou com outro, e desta contínua
identificação resulta a ideia do “eu”. Por favor considerem isto com o
vosso coração e a vossa mente, visto que não é uma ideia filosófica que
possa ser simplesmente aceite ou rejeitada.
Eu digo que através do conflito da escolha, a mente
estabeleceu uma memória, muitas camadas de memória; identificou-se com
estas camadas, e chama-se a si própria o “eu”, o ego. E daí surge a
questão, “Que acontecerá comigo quando eu morrer? Terei uma oportunidade
de viver outra vez? Existirá uma plenitude futura?” Para mim, estas
questões nascem da ânsia e da confusão. O que é importante é libertar a
mente deste conflito da escolha, já que somente quando assim se tiverem
libertado poderá existir imortalidade.
Para a maioria das pessoas a ideia da imortalidade é a
continuação do “eu”, sem fim, através do tempo. Mas eu digo que tal
conceito é falso. “Então,” respondem vocês, “deve haver aniquilação
total.” Eu digo que isto também não é verdade. A vossa crença de que a
aniquilação total deve seguir-se à cessação da consciência limitada a
que chamamos “eu”, é falsa. Vocês não podem entender a imortalidade
dessa forma, visto que a vossa mente está aprisionada em opostos. A
imortalidade está liberta de todos os opostos; é ação harmoniosa na qual
a mente está absolutamente liberta do conflito do “eu”.
Eu digo que há imortalidade, imortalidade essa que
transcende todas as nossas concepções, teorias e crenças. Somente quando
têm a compreensão total dos opostos, ficarão livres deles. Enquanto a
mente criar conflito através da escolha, deve existir consciência como
memória que é o “eu”, e é o “eu” que teme a morte e anseia pela sua
continuação. Por isso não existe a capacidade para compreender a
plenitude de ação no presente, que é a imortalidade.
Um certo brâmane, de acordo com uma antiga lenda
Indiana, decidiu distribuir algumas das suas posses no desempenho de um
sacrifício religioso. Ora este brâmane tinha um filho pequeno que
observava o seu pai e o assediava com imensas perguntas até que o pai
ficou aborrecido. Finalmente o filho perguntou, “A quem me vais dar?” E o
pai respondeu-lhe com irritação, “Dar-te-ei à Morte.” Ora
considerava-se antigamente que aquilo que fosse dito teria que ser
feito; portanto o brâmane teve que enviar o seu filho à Morte, de acordo
com as palavras que irrefletidamente tinha proferido. À medida que o
rapaz se dirigia para a casa da Morte, ouvia o que muitos professores
tinham a dizer sobre a morte e sobre a vida após a morte. Quando chegou à
casa da Morte, notou que a Morte estava ausente; portanto esperou três
dias sem comer, de acordo com um antigo costume que proibia comer na
ausência do anfitrião. Quando finalmente a Morte chegou, pediu
humildemente desculpa por ter feito o brâmane esperar, e em sinal de
pesar concedeu ao rapaz três desejos que ele pudesse querer.
No seu primeiro desejo o rapaz pediu que fosse
devolvido ao pai; no Segundo, pediu que fosse instruído em certos ritos
cerimoniais. Mas o terceiro desejo do rapaz não foi um pedido mas uma
questão: “Diz-me, Morte”, perguntou ele, “a verdade sobre a aniquilação.
Dos professores que ouvi no meu caminho para cá, alguns dizem que há
aniquilação; outros dizem que existe continuidade. Diz-me, ó Morte, qual
é a verdade.” “Não me faças essa pergunta”, replicou a Morte. Mas o
rapaz insistiu. Assim, em resposta àquela pergunta a Morte ensinou ao
rapaz o significado da imortalidade. A morte não lhe disse se há ou não
continuidade, se há vida depois da morte, ou se há aniquilação; a Morte
ensinou-lhe sim o significado da imortalidade.
Vocês querem saber se existe ou não continuidade.
Alguns cientistas estão agora a provar que existe. As religiões
afirmam-no, muitas pessoas acreditam-no, e vocês podem acreditar se
assim o escolherem. Mas para mim, isso é de pouca importância. Sempre
existirá conflito entre a vida e a morte. Somente quando conhecerem a
imortalidade é que não haverá nem princípio nem fim; somente então é que
a ação implica plenitude, e somente então há infinito. Por isso digo
novamente, a ideia da reencarnação é de pouca importância. No “eu” nada
há que dure; o “eu” é composto de uma série de memórias que envolvem
conflito. Não podem tornar o “eu” imortal. Toda a vossa base de
pensamento é uma série de realizações e por isso um contínuo esforço,
uma contínua limitação da consciência. Contudo esperam dessa forma
compreender a imortalidade, sentir o êxtase do infinito. Eu afirmo que a
imortalidade é realidade. Vocês não podem discuti-lo; poderão sabê-lo
na vossa ação, ação nascida da plenitude, da riqueza da sabedoria; mas
essa plenitude, essa riqueza, não a podem alcançar ouvindo um guia
espiritual ou lendo um livro de instrução. A sabedoria vem somente
quando há plenitude de ação, quando há consciência completa do vosso
todo em ação; então verão que todos os professores e todos os livros que
pretendem guiá-los para a sabedoria nada lhes podem ensinar. Poderão
conhecer o que é imortal, eterno, somente quando a vossa mente estiver
livre de qualquer sentido de individualidade que é criado pela
consciência limitada, que é o “eu”.
Pergunta: Quais são as causas dos desentendimentos que nos levam a colocar-lhe questões em vez de agir e viver?
Krishnamurti: É bom
questionar, mas como recebem as respostas? Fazem uma pergunta e recebem
uma resposta. Mas o que fazem com essa resposta? Perguntaram-me o que
havia após a morte, e eu dei-lhes a minha resposta. Ora o que vão fazer
com essa resposta? Vão armazená-la em qualquer canto do vosso cérebro e
deixá-la aí permanecer? Vocês têm celeiros intelectuais nos quais reúnem
ideias que não compreendem, mas que esperam lhes venham a servir em
situações de dificuldade ou dor. Mas se compreenderem, se se entregarem
de alma e coração ao que digo, então agirão; nessa altura a ação nascerá
da vossa própria plenitude.
Há duas maneiras de colocar uma questão: podem
colocar uma questão quando estão na intensidade do sofrimento, ou podem
colocar uma questão intelectualmente, quando estão entediados e à vossa
vontade. Num dia querem saber intelectualmente; noutro dia perguntam
porque sofrem e querem saber a razão do sofrimento. Só podem realmente
saber quando questionarem na intensidade do sofrimento, quando não
desejarem escapar do sofrimento, quando se encontrarem com ele cara a
cara; somente então saberão o valor da minha resposta, o seu valor
humano para o homem.
Pergunta: O que é que quer
dizer exatamente por ação sem objetivo? Se é a resposta imediata de todo
o nosso ser em que objetivo e ação são um só, como pode a ação do nosso
quotidiano ser sem objetivo?
Krishnamurti: Você mesmo deu a
resposta à pergunta, mas deu-a sem perceber. O que fará na sua vida
quotidiana sem um objetivo? Na sua vida diária você pode ter um plano.
Mas quando experimenta sofrimento intenso, quando é apanhado numa grande
crise que requer ação imediata, então age sem objetivo; então não há
motivo na sua ação, porque você está a tentar descobrir a causa do
sofrimento com todo o seu ser. Mas a maioria de vocês não está
predisposta a agir integralmente. Estão constantemente a tentar fugir do
sofrimento, tentam evitar o sofrimento; não querem confrontá-lo.
Explicarei o que quero dizer de outra forma. Se você
for um cristão, olha para a vida de um ponto de vista particular; se for
Hindu, olha para ela de um ângulo diferente. Por outras palavras, o
cenário da vossa mente dá o colorido à vossa visão da vida, e tudo o que
vocês percebem é visto somente através daquela visão colorida. Assim
nunca vêm a vida como ela realmente é; olham para ela através de um ecrã
de preconceito, e por isso a vossa ação tem de ser sempre incompleta,
tem sempre que ter um motivo. Mas se a vossa mente estiver liberta de
todos os preconceitos, então encontram a vida como ela é; então
encontram a vida integralmente, sem a busca de recompensa ou a tentativa
de fugir ao castigo.
Pergunta: Qual é a relação entre técnica e vida, e porque é que a maior parte de nós confunde uma com a outra?
Krishnamurti: A vida, a
verdade, é para ser vivida; mas a expressão requer uma técnica. Para
pintar, vocês precisam de aprender uma técnica; mas um grande artista,
se sentiu a chama do impulso criativo, não seria escravo da técnica. Se
vocês forem ricos interiormente, a vossa vida é simples. Mas vocês
querem chegar a essa completa riqueza através de meios externos tais
como a simplicidade no vestir, a simplicidade na habitação, através do
ascetismo e da autodisciplina. Por outras palavras, vocês querem obter a
simplicidade que resulta da riqueza interior através de técnicas. Não
existe técnica que os guie à simplicidade; não existe caminho que os
conduza à terra da verdade. Quando compreenderem isso com todo o vosso
ser, então a técnica tomará o seu devido lugar na vossa vida.
08/07/1933.
Jiddu Krishnamurti
Meus amigos (as) desejo a todos um ótimo Dia.
Muita Paz para todos.
Força Sempre
Claudio Pacheco
Caros (as) amigos (as) agradeço a visitas de vcs, esse blog sem fins lucrativos, ou seja, sem anúncios
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